segunda-feira, 18 de outubro de 2010

OPINIÃO

A Guarda e a Republica

Exposição - Ministério da Administração Interna, Outubro de 2010.

Quando da visita à exposição “A Guarda e a República” aqui noticiada fiquei surpreendido por ali existir um espaço dedicado à Guarda Fiscal onde estavam expostos símbolos e condecorações concedidos a uma das suas Unidades, o Batalhão n.º 3, em reconhecimento das suas actuações em serviço da Pátria e da Republica demonstradas no movimento patriótico do 31 de Janeiro de 1891 e por ocasião das incursões monárquicas ocorridas no norte de Portugal em 1911 e 1912.
Também por constatar que no mesmo local estavam patentes o Brasão de Armas da Guarda Fiscal e o Monumento ao Militar da Guarda Fiscal da autoria do escultor Domingos Soares Branco que desde 1985 se encontrava na Entrada Nobre do Comando Geral, enquadrado pelos Guiões das Unidades, em frente da placa alusiva aos Mortos da Instituição.
A GNR é uma Instituição com 99 anos de existência. Da sua História, seguramente, constam inúmeros e relevantes factos em que esteve envolvida, alguns certamente relacionados com a Republica e em defesa dos seus princípios.
Para ilustrar este seu percurso de quase um século, que teve início em 3 de Maio de 1911, não necessita de se socorrer de factos anteriores a esta data, nem de acontecimentos que têm autor perfeitamente definido e totalmente independente da GNR e que serviram de base para a concessão da mais importante das Condecorações existente em Portugal.
Tão-pouco necessita apresentar, numa sua exposição, objectos carregados de simbolismo como o Monumento ao Militar da Guarda Fiscal e o Brasão de Armas da Guarda Fiscal, (que ainda por cima nada têm a ver com o tema da Exposição) como se fossem pertença de uma sua Unidade, induzindo desta forma o visitante a concluir que tudo está perfeitamente integrado no tema da Exposição - A Guarda e a República.
Também fiquei estupefacto por não ter encontrado qualquer alusão à intervenção da Guarda Municipal do Porto, considerada como antecedente próximo da GNR.
De facto e conforme relatos da época, a Guarda Municipal do Porto teve um contributo relevante no desenrolar dos acontecimentos em 31 de Janeiro de 1891, por ter contribuído, decisivamente, para o malogro desta tentativa de implantação da República em Portugal.
Assim, lógico seria que este assunto, perfeitamente centrado no âmbito do tema da Exposição – A Guarda e a República – fosse abordado, evitando consequentemente que houvesse necessidade de recorrer, abusivamente, a factos, acontecimentos e símbolos da Guarda Fiscal, que por pertencerem ao seu Património Histórico não podem ser avocados em proveito da GNR.
Já agora, aos autores do impresso de apresentação da exposição que nos é entregue no início da visita, aconselho a consulta dos decretos, n.º 4 de 17 de Setembro de 1885 e s/n.º de 9 de Setembro de 1886 para esclarecimento da afirmação feita, certamente por lapso, acerca da primeira força de segurança implementada em todo o território Nacional.

F. Gamboa Marques

4 comentários:

  1. Penso ter sido bastante esclarecedor, seguindo em tudo a linha do Cor. Gamboa Marques.

    sempre " Pela Pátria e Pela Lei "

    Cumprimentos

    Leónidas Moreira

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  2. Caros amigos,

    Como me interesso pelo assunto e tenho algum tempo para andar na NET, informo que segundo o que li há alguns meses no blog picachouriços a exposição inicial, no quartel do Carmo, não fazia qualquer alusão à Guarda Fiscal.

    Os autores desse blog criticavam severamente a GNR por não fazer qualquer referência ao papel da Guarda Fiscal na implantação da República e escamotear que as duas Guardas Municipais (Lisboa e Porto), antecessoras da GNR, combateram contra as tropas republicanas, nomeadamente contra a GF em 1891 e 1910.

    Os autores do Blog consideravam mesmo que o património histórico da GF devia passar da GNR para a Alfândega.

    Talvez por isso a GF passe a constar na exposição que foi montada no MAI.

    Cumprimentos,

    José Pinheiro

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  3. Concordo completamente. A Guarda Fiscal não deve ser usada para melhorar a imagem da GNR e das suas antecessoras Guardas Municipais de Lisboa e do Porto, no que à implantação da República diz respeito, claro.

    António Sousa

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  4. Pelo que vejo ainda há muitos "fantasmas" por estes lados.
    Só quero lembrar uma coisa:
    Decreto Lei n.º 230/93, de 26 de Junho
    ...
    Artigo 2.º
    Património histórico
    A GNR é fiel depositária do património histórico da GF.
    Cumprimentos

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