Tudo contrabandeei
No vigor da minha vida;
Hoje que me reformei
Só já recordo essa lida
À chuva, vento e ao frio,
Noites e noites andando,
As gentes do contrabando
Passavam a custo o rio;
Aprendi com um meu tio
Aquilo que ainda sei
E que depois ensinei:
Café, tabaco e tecidos,
Gados, loiças e vestidos
Tudo contrabandeei!
Era nos canaviais
Que a gente se escondia
Dormindo durante o dia
Para a noite render mais;
Entre gemidos e ais
Íamos nós de saída
Nessa autêntica corrida
Jogando ao gato e o rato
Feita pelo meio do mato
No vigor da minha vida
Atravessando a campina
Lá no Posto dos Mociços,
Safei-me aos Pica-Chouriços
Numa noite de neblina;
Fugi por uma ravina:
Por todo o lado saltei
Nem sei como me safei
Mas arranjei um enredo:
Lembro-me e tenho medo
Hoje que me reformei
Relembro que o “Pata Larga”
Uma vez, em Juromenha,
Escondeu-se numa brenha
Ele mais a sua carga;
Com os guardas à ilharga
E as balas de zunida
P’ra Cheles foi de fugida
Safou-se p’ró outro lado…
…E eu hoje, velho e cansado
Só já recordo essa lida
Autor: Fernando Máximo/Avis
IV Concurso de Poesia Popular
Camara Municipal de Alandroal
Tema: O contrabando (2016)
1º CLASSIFICADO
Sem comentários:
Enviar um comentário